quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Poema: música

A doce, iriada melodia, 
roxa sombra na tarde escarlate, 
chorosa, ouço-a; bate 
e verte quentura na minha alma fria. 

Quantos anos galgaram lépidos, 
furtivos, maldosos, sobre a minha cabeça! 
E não há tempo que, húmido, arrefeça 
a toada suave de tons tépidos... 

Remédio para as minhas feridas, 
para os nervos pacífico brometo, 
quando eu seguir no caixão preto, 
entre velas e ladainhas, 

meus ouvidos tapados a algodão 
hão-de ouvi-la, tal como nessa tarde, 
tão discreta, suave e sem alarde, 
sobrepondo-se ao cantochão... 

Saúl Dias

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